O livro já foi resenhado por mim aqui no blog, para ler clique aqui. No link você também encontra os sites para adquirir o e-book e o livro físico.
Quer mais da história de Elena e Maycon? Acesse o Wattpad e leia Meu Vício: Pós Dependência.
A turma mineira teve o lançamento do livro durante a Bienal de Minas, que vai até domingo (24).
No dia 11 de junho, a autora estará lançando oficialmente o livro em São Paulo, num evento especial mediado e organizado por euzinha \o/ Paulistas de plantão não deixem de confirmar presença no link do evento aqui.
Para celebrar esta data tão linda, a autora postou em seu Facebook uma entrevista que ela fez com um dependente em recuperação. Ao fim da postagem, a entrevista completa está disponível para vocês.
Kell: Quando teve seu primeiro contato com drogas? E qual foi o motivo de querer experimentar?
T: Aos quinze anos, hoje estou com trinta e oito. Na verdade o motivo é claro, ainda que muitos não queiram enxergar, você procura na rua o que não tem em casa, no meu caso especifico, foi o amor. Alguns amigos já estavam fumando maconha e me ofereceram, não aceitei. Até que um dia, depois de ser expulso do colégio por ter falado porra em sala de aula, ao invés de ir pra casa, encontrei esses amigos e nesse dia fumei maconha com eles, os caras disseram que era bom, estavam rindo feitos loucos, fiquei curioso, minha vida era uma merda, achava que isso não iria piorar, me enganei...
Kell: Qual droga usa?
T: Maconha foi á primeira, até então não me considerava viciado, mas um dia usei junto com crack (misturamos) me tornei viciado desde então. Mas já cheirei também, só que não se consegue coca pura, e quanto mais próxima disso, mais cara ela é. Ai fiquei no crack mesmo.
Kell: A droga está ligada diretamente á violência, depois de se tornar viciado, roubou ou cometeu algum crime para conseguir o dinheiro para consumo?
T: Não. Eu sempre tive consciência que deveria trabalhar para me sustentar, vai me desculpar, eu entendo esses doidos ai que ficam loucos e fazem de tudo pela droga, entendo mesmo, mas eu sempre tive consciência de que não era certo partir par esse lado, o cara tem que ter muita merda na cabeça, sabe, minha família não é assim, meus pais não são, apesar da droga, na minha cabeça nunca foi certo roubar ou matar, mas sei que isso vai dá cabeça do cara, como dizem sua cabeça é seu guia. Outro exemplo é dívida, nesse mundo você sempre está um passo da morte, e dever traficante é assinar sua sentença, nunca comprei fiado, não sei o que é isso, mas perdi e vi muita gente morrer por dívida.
Kell: Hoje você ainda usa crack?
T: Não. Na verdade há seis meses estou limpo de tudo, até da maconha, quer dizer, fumo muito cigarro, mas quero parar também.
Kell: Como ocorreu esse processo em se liberar das drogas?
T: Quando não se tem dinheiro para comprar, nem disposição pra entrar no crime, acontece, eu gastei muito mesmo com drogas, perdi muita oportunidade na vida, foram vinte e três anos vividos pra ela, alguns ruins, eu nunca fiquei doidão, tipo, pirar mesmo, mas não tinha dinheiro, estou há dois anos sem crack, mas só consegui quando não quis isso mais pra mim. Esse é outro ponto, sair pelos outros da merda, você volta sempre pro mesmo buraco e ainda cava mais fundo. Um dia, depois de uma dessas crises, eu quis mesmo morrer porque você se sente um zé, acha que não tem mais valor, eu chorei por dias, ai percebi que se quisesse mudar, teria que ser por mim, tipo, eu não nasci viciado, então por que precisava dessa merda? Foi louco porque questionei a mim mesmo sobre isso, e nesse dia quis sair, tava na capa, fudido e sem grana pra nada. Mas sempre tive orgulho, nada de mostrar como eu tava mal. Isso me ajudou, acho que consegui encontrar isso que as pessoas chamam de amor próprio.
Kell: O que tem a dizer para as famílias que passam por isso?
T:
O cara tem que querer, sei que é foda pra família, mas se o cara não quiser sair, nem o papa vai poder tirar ele. Tenho amigos que frequentaram clinicas na Suíça, que gastaram fortunas com tratamentos e ainda sim voltaram piores. Olha, pra ter uma ideia, quando o cara fica cinco dias sem usar, ele comemora, porque cinco dias para um viciado é como seis meses. Então aos olhos de um viciado eu to no céu (rsrs). Estou brincando, mas é difícil cara, muito mesmo, tem que querer e ter muita fé em Deus, caso contrário, não tem luz no fim do túnel.
Kell: Mas acha que está curado? Você, depois de tanto tempo, acha que realmente se libertou?
T: Eu não sou burro, apesar do tempo sei que isso não é nada, principalmente porque não é a primeira vez que fico tanto tempo. Mas desta vez eu me afastei dos caras, quero até mudar de cidade, me sinto mais forte pra lutar contra isso, tenho pensado na morte sabe, e esse lance de alma e tal. Mas apesar de tudo eu sei que não posso ver a droga, se ver, sei que vou usar. Isso acontece com todos, e não tem isso de controle, já gastei dois mil em uma só noite, já vi amigos gastarem mais que isso, tipo, fortuna mesmo, isso é do diabo cara, quanto mais usa, mais quer, não consegue saciar sua ânsia.
Mas eu to bem, to limpo, minha mente está estável e estou com muita fé em Deus, sei que ele vai me ajudar a não retroceder.
Kell: Tem alguma mensagem a transmitir para quem ainda não entrou nesse mundo?
T: Isso é o inferno, sério mesmo, não existe apenas um pra experimentar, um me tornou viciado. Meus amigos diziam que era bom, mas depois todos eles foram junto comigo no mesmo buraco, alguns morreram e eu to vivo. Eu fui de tudo, desde maconha, cocaína e crack. Hoje em dia aqui não tem cocaína boa, é uma merda mesmo, com muito pó de vidro e isso fode muito com você, o nariz dos caras sagra o tempo todo. Nisso eu fiquei no crack, hoje no mercado ele e a coca estão o mesmo preço, não a pura, a da boa não consegue mais aqui.
Ah sim, é lero lero isso de ser bom, o efeito é bom, muito bom, mas a vida que isso te leva é uma merda e não preenche o que te falta, não mesmo, é só ilusão, então meu amigo, se não entrou, corre pra longe disso, e se entrou, implora a Deus ai ajuda, só ele mesmo pra nos ajudar porque isso é o inferno.
Kell: Tem algo a acrescentar? Ou uma mensagem final?
T: Eu não tenho garantia sobre continuar limpo, mas é algo que estou me esforçando, acho que o problema do mundo é justamente julgamentos. Os pais devem conversar com seus filhos, devem dar atenção, procurar ser amigo mesmo, ter a confiança deles, sei que como eu estou conseguindo, é um em mil, a droga não dá chance depois que se entra, então não deem chance pra ela entrar na sua casa. Acho que é isso. E muita fé em Deus, só ele pra nos ajudar nesse mundo fudido.
Kell: Ok, muito obrigada pela entrevista! Desejo muita força e luz para você.
T: Obrigado, a você também! E parabéns pelo livro!
Parabéns Kell pelo livro incrível. Estou ansiosa por muito mais histórias!
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